“Faz umas coisinhas”: O perigo dos estereótipos no artesanato moderno
- Lara Moita
- 17 de mar.
- 2 min de leitura

Quantas vezes já ouviste esta frase: “Ela faz umas coisinhas giras”? Ou viste artesanato ser apresentado nos programas da manhã da televisão como uma atividade de passatempo, um “miminho” de fim de semana ou algo “fofinho” para entreter os tempos livres?
E nos programas das Feiras de Domingo… quantas vezes o foco está no preço baixo, no amadorismo, ou na ideia de que aquilo “é tudo igual ao que a minha avó fazia”?
Parece inofensivo. Mas não é.
Estas representações, que parecem inocentes e bem-intencionadas, perpetuam uma imagem redutora e ultrapassada do artesanato — como se fosse um hobby menor, sem valor económico, sem exigência técnica, sem profissionalismo.
E isso é profundamente nocivo para quem quer viver do artesanato com seriedade, qualidade e visão de futuro.
O impacto real deste discurso na vida dos artesãos
Quando o artesanato é sempre mostrado como “umas coisinhas”, o público assimila a mensagem de que:
• não dá trabalho,
• não precisa de formação,
• deve ser barato,
• não é uma profissão “a sério”.
Consequência? Clientes que não valorizam. Feiras com preços de saldo. Comentários desvalorizadores como “No chinês há igual”. E até familiares e amigos que não entendem o teu esforço, porque acham que estás só a “brincar aos trabalhos manuais”.
Tudo isto dificulta a construção de um negócio artesanal sustentável, com reconhecimento justo e com espaço para crescer.
Então… o que podemos fazer para contrariar esta tendência?
A mudança começa por nós, artesãos. E há várias formas de reverter este discurso:
1. Começa por ti: eleva a tua comunicação.
A forma como falas do teu trabalho nas redes sociais, nas feiras ou numa simples conversa faz toda a diferença. Não digas “faço umas coisinhas”. Diz “Sou artesã e crio peças únicas com técnicas tradicionais e design contemporâneo.” Fala com orgulho do teu processo, das tuas escolhas e do teu valor.
2. Educa o teu público.
Mostra o que está por trás de cada peça: tempo, técnica, materiais de qualidade, experimentação, testes, erros, aperfeiçoamento. Explica o porquê dos preços, conta histórias do processo e da tua trajetória como profissional.
3. Valoriza a tua identidade.
Não copies o que toda a gente faz. Não entres na lógica do “mais barato só para vender”. Cria algo com alma, sim — mas com consistência, estratégia e visão. Isso sim é artesanato com futuro.
4. Une-te a quem partilha da mesma visão.
Estar numa comunidade que acredita no valor do artesanato como profissão é essencial. Partilhar experiências, aprender em conjunto, inspirar-se mutuamente. É assim que se constrói uma floresta de artesãos fortes, conscientes e preparados para fazer frente aos estereótipos.
Conclusão: o artesanato não é um passatempo. É um ofício com dignidade.
Está na hora de deixarmos claro, com palavras e ações, que o artesanato não é um capricho de feira, nem um enfeite de programa de manhã. É cultura, é economia, é identidade, é inovação. E sim, pode ser uma profissão moderna, rentável e com futuro — se formos nós os primeiros a tratá-la como tal.
Vamos deixar de fazer “umas coisinhas”. Vamos criar com intenção, comunicar com clareza e assumir com orgulho: somos artesãos. E o nosso trabalho merece ser reconhecido.
É isso o artesanato não é um passatempo é um oficio com dignidade
Eu quando comecei, fazia umas coisinhas....
Depois de conheçer a Plataforma, mudei o chip. Faço peças unicas. Hoje em dia consigo p^r em prática o ponto 2, educar o publico, para que percebam que o que está ali, não só umas peças que toda a gente pode fazer ou comprar no chinês. É algo em que se coloca dedicação, paixão, tempo...
Agradeço ter "tropeçado" num anuncio da Plataforma. estou a aprender muito :)
"Não copies o que toda a gente faz. Não entres na lógica do “mais barato só para vender”. Cria algo com alma, sim — mas com consistência, estratégia e visão. Isso sim é artesanato com futuro." é por isto que eu tenho lutado e vou lutar até ao fim dos meus dias
a arte não se duplica, triplica, etc..;
A arte não tem moldes que se possa passar para outros, podemos e devemos ensinar a produzir, não a passar moldes.
Porque a
arte é única, são peças feitas à mão com amor, dedicação e delicadeza, não façam peças todas iguais como se fosse uma fabrica a produzir em serie, e não se esqueçam que há defeitos nas nossas pe…
Se eu pudesse escolher uma só frase deste texto, seria: "Parece inofensivo. Mas não é." Porque isto é muito mais profundo do que, às vezes, se imagina.