Nem Tudo o Que É Feito em Casa É Artesanato — E Está Tudo Bem (Mas Chamemos as Coisas Pelos Nomes Certos)
- Lara Moita
- 20 de mar.
- 2 min de leitura

Hoje quero falar de algo que me inquieta e que é importante para todos nós que queremos realmente valorizar o artesanato como profissão séria e digna.
Nem tudo o que é feito em casa é artesanato. E, atenção, isso não significa que tenha menos valor. Ter um pequeno negócio não artesanal é tão legítimo e válido quanto fazer artesanato. Mas se queremos que o verdadeiro artesanato seja reconhecido, precisamos de começar por chamar cada coisa pelo seu nome.
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Fazer à Mão Não É o Mesmo Que Fazer Artesanato
Há uma diferença clara entre:
• Produção artesanal, com identidade, técnica, intenção criativa e domínio do ofício;
• E produção caseira ou manufatura em pequena escala, que pode ser ótima, bem feita, honesta e útil, mas que não tem necessariamente base artesanal.
Nem tudo o que se faz com as mãos, em casa, ou com carinho, é artesanato.
E não há mal nenhum nisso.
Mas o problema começa quando tudo se mistura no mesmo saco – ou na mesma feira.
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As Feiras de Artesanato Estão a Ser Descaracterizadas
As chamadas feiras de artesanato estão, em muitos casos, a tornar-se um espaço onde se vende de tudo um pouco:
🔸 Revenda disfarçada,
🔸 Produtos importados,
🔸 Artigos montados com peças prontas,
🔸 Produções em série, sem identidade ou valor criativo.
E o que acontece?
➡️ O cliente já não distingue o que é verdadeiramente feito à mão com técnica e intenção artística.
➡️ O valor do artesanato vai sendo diluído, confundido, banalizado.
➡️ O artesão profissional, que vive do seu ofício, vê-se lado a lado com produtos que não refletem a mesma entrega, conhecimento nem processo.
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Há Espaço Para Todos — Mas Cada Um No Seu Lugar
Não se trata de excluir ninguém. Mas sim de reconhecer que há feiras diferentes, com propósitos diferentes.
📌 Se vendes sabonetes artesanais, bijuteria montada ou produtos caseiros bem feitos, talvez o teu lugar seja numa feira de produtos locais, de design independente, de pequenos produtores ou mercados urbanos.
📌 Se és artesão, com técnica apurada e identidade própria no teu trabalho, luta para que as feiras de artesanato sejam, de facto, representativas do verdadeiro artesanato.
Porque quando tudo se mistura, ninguém se destaca e todos perdem.
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Se Queremos Dignificar o Artesanato, Temos de o Proteger
O primeiro passo para valorizar o artesanato é respeitá-lo e diferenciá-lo.
E isso começa por:
✅ Chamarmos as coisas pelos nomes certos.
✅ Exigirmos critérios nas feiras de artesanato.
✅ Ocupando os espaços certos para cada tipo de negócio.
Há espaço para todos brilhar — mas cada um no palco certo.
Porque quando as feiras de artesanato forem ocupadas por artesanato verdadeiro, o público voltará a olhar para este setor com o respeito que merece.
E nós — artesãos, produtores, criativos — temos o dever e o poder de começar essa mudança.
Vamos a isso?
Esta questão muito se deve essencialmente por duas razões (a meu ver): tanto quem faz, como quem organiza feiras não tem presente a verdadeira e oficial definição de artesanato. Logo também não terá capacidade de fazer a devida filtragem.
Este é o motivo principal porque deixei de participar em mercados pois desvalorizam o verdadeiro trabalho artesanal