Tecelagem: uma arte em vias de extinção
Dalmo Cerqueira é o único tecelão em Oliveira de Azeméis
Dalmo Cerqueira, 68 anos, natural de Ponte de Lima, mas a viver em Cucujães desde 1995, viu na tecelagem a sua grande paixão, depois de uma vida como técnico de farmácia.A paixão já vinha de casa dos pais, mas só quando chegou a Cucujães é que avançou para esta arte.Atualmente é dos poucos tecelões que existem em Portugal, uma arte que tem vindo a perder apaixonados e esteve à conversa com o Correio de Azeméis, ele que foi também presidente da Associação de Artesãos das Terras de Santa Maria durante oito anos.
O retomar da paixão. “A tecelagem veio de casa dos meus pais, quando tinha a minha tenra idade. Depois saí de casa dos meus pais aos 15 anos, e isto ficou tudo para trás até eu comprar aqui a casa. Quando vi esta casa com estes fundos pensei logo em comprar um tear, só com a ideia de vou ver se ainda consigo fazer alguma coisa. Comprei um tear, depois mandei fazer outro, depois deram-me outro e começou assim, as coisas começaram a correr. Comecei a fazer umas feiras de artesanato e assim foram surgindo as coisas”
Único tecelão em Oliveira de Azeméis. “Aqui em Oliveira de Azeméis acho que sou o único a fazer tecelagem. E mesmo no país, já há muito poucos. Enquanto que há uns anos, na altura em que eu era menino, conhecia muita gente a trabalhar nos teares, hoje em dia, por esse país fora, vejo pouca gente. É preciso a pessoa ter gosto”
“Aqui em Oliveira de Azeméis não sou muito conhecido”. Aqui em Cucujães, em Oliveira de Azeméis, não sou muito conhecido. Eu faço feiras de artesanato, mas à distância. Dão-me condições e eu vou. Faço Batalha, Estremoz, Covilhã, Trancoso e Belmonte. Este ano fui fazer também à Mealhada. Vou porque me dão condições para trabalhar, dão-me espaço para levar o tear, para ter o tear em exposição, para mostrar o material que levo às pessoas. Porque o meu problema, muitas vezes, que é o caso do Mercado à Moda Antiga, dá um espaço muito pequeno. Quero mostrar um tapete, quero espaço para as pessoas poderem ver à vontade e não tem esse espaço”
Feira de Artesanato em Oliveira de Azeméis. “Eu acho que sim [devem de voltar com a Feira de Artesanato]. Quando faziam a Feira de Artesanato na La Salette, tinha umas certas condições. Houve uma pessoa que estava sempre à frente daquilo que regulava a feira, era simpática com toda a gente, tentava, mas depois desapareceu da câmara e isto é como em todo lado. Muitas vezes os bons vão-se embora e ficam os que não prestam”
Mais espaço para o artesanato no Mercado à Moda Antiga. “Eu acho que no Mercado à Moda Antiga eles deviam de criar uma área onde estivessem as artes e ofícios, como no tempo da Ana e do Nélson quando começou o Mercado à Moda Antiga. Nessa altura tinham lá o tanoeiro, estava lá eu, o senhor das alfaias agrícolas, o cesteiro, estava lá tudo isso. Agora vai-se ao Mercado à Moda Antiga, não se vê nada disso. Deviam arranjar áreas em separado[para as associações e para as artes e ofícios]. As pessoas sabiam que entravam ali naquela área e que não era o artesanato. Chegavam ao artesanato, encontravam o artesanato, mas para isso também era preciso ter à frente pessoas que percebessem do artesanato”
A presidência na Associação de Artesãos das Terras de Santa Maria. “Estive oito anos, oito anos duros, em que perdi muito hora do meu trabalho. A associação era uma associação que vivia de quotas ou do apoio das câmaras.(…) A Associação das Terras Santa Maria representava 14 concelhos. Hoje parece que nem um representa.(…) Eu trouxe a sede da Associação para Cucujães”
“Se ainda não morreu, está para morrer”.“A associação, acho que, se ainda não morreu, está para morrer. Eu deixei de ser sócio [quando deixou de ser presidente], e do que ouvi não fazem assembleias para eleições, não fazem assembleias para aprovação de contas. É aquilo que me dizem não sei se é verdade. Uma associação precisa ter alguém à frente que saiba que todos os anos tem que fazer, no mínimo, uma assembleia ordinária, que é para dar a saber aos associados como é que estão as contas e têm que ser aprovadas em assembleia, para depois, ir entregar às finanças. Agora, se essa assembleia não é feita, se os documentos não são entregues às finanças, alguma coisa está mal. Por isso é que digo que já morreu”
A carta de artesão. “A carta de artesão era passada pela CEARTE, que está sediada em Coimbra e que está ligada ao IEFP. A pessoa tem que preencher todos os requisitos para ter a carta de artesão. Nem tudo dá para ter essa carta. Por exemplo, quem pintar panos, babetes, fraldas, entre outros, não está inserido. Eu, para ter uma carta de artesão, tenho que ter uma unidade produtiva artesanal. Há artesãos que não têm unidade produtiva, mas estão ligados a uma carta produtiva artesanal. A carta de artesão dá para ir buscar subsídios do IEFP e tem de ser renovada de cinco em cinco anos”
Fonte: https://correiodeazemeis.sapo.pt/noticias/tecelagem-uma-arte-em-vias-de-extincao