
A Carta de Artesão Não Pode Ser Só Uma Porta para Subsídios
- Lara Moita
- há 2 dias
- 2 min de leitura
Nos últimos tempos, tenho visto algo que me preocupa — e que, infelizmente, muitos de vocês também já me trouxeram em conversa:
há quem obtenha a Carta de Artesão apenas para concorrer aos apoios do IEFP… e depois, nas feiras, vende de tudo, menos artesanato.
Sim, leste bem.
Produtos comprados para revenda, bijuteria importada, artigos de moda sem qualquer trabalho manual ou ligação ao ofício que declararam quando se candidataram à Carta.
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🤔 Isto é um problema sério. Porquê?
Porque subverte todo o propósito da Carta de Artesão, que é uma certificação oficial atribuída a quem exerce verdadeiramente uma atividade artesanal.
E mais grave ainda: desvirtua os próprios apoios do IEFP, que foram criados para impulsionar o crescimento de negócios sustentáveis, com base no saber-fazer tradicional ou criativo.
Quando alguém usa esta certificação para se “camuflar” como artesão e aceder a apoios públicos — para depois encher a banca com produtos industrializados — está a enganar o sistema, os organizadores das feiras e o próprio cliente.
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🧵 O que defendemos na Plataforma do Artesão?
Acreditamos que a Carta é um passo importantíssimo na valorização do artesanato em Portugal. Mas também defendemos que o seu uso deve ser fiscalizado e respeitado.
Por isso, deixamos aqui três propostas que consideramos urgentes:
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1. Obrigatoriedade de apresentar um rácio mínimo de peças certificadas
Se o artesão foi certificado por determinada técnica, essa técnica deve representar a maior parte dos produtos à venda na banca.
Não faz sentido obter a Carta com base em cestaria artesanal e depois vender cestos importados de lojas que todos conhecemos ou bugigangas industriais.
Se não é isso que consta da candidatura, não é isso que devia estar na banca.
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2. Maior fiscalização por parte do CEARTE e do IEFP
É necessário um esforço conjunto para garantir que:
• Os apoios são bem atribuídos.
• As feiras que acolhem artesãos apoiados mantêm o foco no verdadeiro artesanato.
• Os abusos são denunciados e penalizados.
Esta fiscalização pode até ser feita em articulação com associações e entidades locais, organizadores de feiras e, por que não, comunidades como a nossa, que acompanham de perto a realidade do setor.
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3. Mais consciência por parte de quem organiza e de quem compra
Os organizadores de feiras também têm um papel importante.
Atribuir lugares com base apenas no preço, nas amizades, ou em quem tem a Carta, sem verificar a coerência entre o que foi certificado e o que está à venda, é fechar os olhos ao problema.
E nós, como comunidade e consumidores, temos o dever de estar atentos e de valorizar quem trabalha com verdade.
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🙌 Conclusão
Não se trata de apontar o dedo.
Trata-se de defender o valor do artesanato com seriedade.
A Carta de Artesão é um marco fundamental na profissionalização do setor. Mas para funcionar como tal, tem de ser respeitada, fiscalizada e protegida de abusos.
Na Plataforma do Artesão, continuamos a lutar para que o artesanato seja levado a sério — por quem o faz, por quem o compra e por quem o apoia.
Porque só assim conseguimos construir um futuro onde viver do artesanato seja verdadeiramente possível e digno.
Se concordas com esta visão, ajuda-nos a partilhar esta mensagem.
Concordo devia haver mais fiscalização.
Eu não faço feiras, por falta de tempo, estou com os meus pais a vender artesanato e artigos regionais, temos bugigangas á venda temos produtos artesanais feitos pelos meus pais e os trabalhos a ponto cruz, que foi com base nestes trabalhos que pedi a minha carta de artesã, mas em lado nenhum diz que sou artesã certificada, no entanto para participar num concurso público descrevi tudo o que vendemos, o que fazemos o que compramos e aí sim pus que os produtos bordados a ponto cruz eram feitos por mim e que tinha a carta. Na minha opinião assim não estou a "enganar" ninguém
Já faço o meu tipo de artesanato à 40 anos, parabéns por esta importante comunicação. Sim devia existir maior rigor e fiscalização a quem vende certos artigos
Bom dia Lara !!
Essa colocação sobre a importância de realmente fazer o uso devido da carteira de artesão, é mesmo de se considerar !!
Uma coisa que percebi , é ver algumas pessoas com carta de artesão e vendendo bugigangas como se fossem artesanatos. Isso descredibiliza toda uma visão de quem é o artesão !
Eu passei como consumidora por muitas feiras de artesanatos e percebi essa triste realidade … no meu ponto de vista, deveria sim , ter uma fiscalização por parte de todos sobre o que realmente é uma venda de artesanatos ( produtos artesanais legítimos ).
Sou artesã há mais de 20 anos, trabalho exclusivamente com bonecas de pano , e sou muito feliz em ser…