
Mudar mentalidades e remar contra a maré
- Lara Moita
- há 3 dias
- 2 min de leitura
Nem sempre é fácil estar deste lado.
Hoje, confesso: estou frustrada.
Publiquei um simples post sobre o nosso serviço de Feiras de Artesanato — e o que era suposto atrair artesãos sérios, prontos para levar o seu trabalho a outro nível, acabou por abrir as portas a tudo menos isso.
Perfis a partilhar as suas “coisinhas”,
Pessoas que falam mais de receitas do que de técnicas,
De repente, o meu Instagram foi invadido por quem representa exatamente o contrário do que a Plataforma defende.
E o que é que isso mostra?
Mostra o que se passa no mundo real.
Mostra como ainda há uma confusão enorme entre artesanato, manualidade e passatempo.
E enquanto essa confusão continuar… o artesanato vai continuar a ser desvalorizado.
Enquanto todos se chamarem “artesãos”…
…sem formação, sem técnica, sem identidade,
…sem pagar impostos, sem emitir faturas,
…a vender por tuta e meia para “ver se dá”,
o cliente vai continuar a querer pagar barato.
Vai continuar a ver o nosso trabalho como “umas coisinhas feitas em casa”.
Vai continuar a achar que o teu bordado vale o mesmo que um guardanapo da loja dos 300.
E isso parte-me o coração. Porque sei que há tantos que merecem mais.
Que estudaram.
Que aprimoram a técnica há anos.
Que criam com identidade.
Que se levantam cedo para ir às feiras.
Que investem em bons materiais, em comunicação, em embalagem.
Que dão tudo. E pedem apenas o justo.
E esses… estão a ser engolidos por um mar de “artesanato de brincadeira”.
E sim — é desesperante.
Mas é por esses que eu continuo a lutar. E preciso de ti.
Preciso que levantes a tua voz comigo.
Que defendas o verdadeiro artesanato.
Que pares de minimizar o teu trabalho.
Que pares de dizer “é só um hobby” quando sabes que dás o corpo e a alma.
Que pares de vender sem pensar.
E comeces a vender com consciência, com estratégia, com respeito pelo teu ofício.
Mudar mentalidades é remar contra a maré.
Mas se remarmos juntos… criamos corrente.
Criamos impacto.
Mudamos, devagar, mas mudamos.
E se tu, que estás a ler, pensas como eu — já somos mais um.
E talvez mais dois, três, vinte, cem.
E um dia, quem sabe, mil.
Mas só acontece se não desistirmos.
Por isso, hoje, deixo-te este apelo:
Vamos ser a voz que o artesanato precisa.
Vamos mostrar que não é só amor — é profissão.
Que não é só talento — é trabalho.
Que não é só “feito à mão” — é feito com cabeça, coração e coragem.
Estou cansada, sim.
Mas não desisto.
Porque tu estás aí.
E isso dá-me esperança.
Vamos continuar a remar. Mesmo contra a maré.
Porque isto vale a pena.
E o artesanato merece.
Comments